Milhares de pessoas podem ser vistas nas ruas do Brasil conectadas a algum tipo de smartphone. Parte destas pessoas é conhecida como a geração Z. São pessoas que nasceram na metade da década de 90 que vivem o imediatismo da informação

Eles não conheceram um mundo sem internet, estão conectados o tempo todo e querem tudo para agora. Querem ser ouvidos, admiram chefes mais pela competência que pela hierarquia e torcem o nariz para horários de trabalho pouco flexíveis. Essa é a geração Z, dos jovens que nasceram depois de 1995 e que agora começam a entrar no mercado de trabalho – e são também os que vão mudá-lo.

Uma pesquisa realizada pela agência TNS, que consultou pessoas entre 15 e 20 anos, revelou que essa é uma geração que terá disposição para trabalhar por mais horas e nos fins de semana que seus colegas mais velhos. Entre 2 mil consultados, 58% dos integrantes da geração Z disseram que trabalhariam à noite e nos fins de semana em troca de salários maiores, contra 45% da geração Y (os nascidos entre 1980 e 1995).

Essa é a opinião das estudantes de Direito Fernanda Favalessa, de 17 anos, e Georgia Calil, 18. Elas fazem parte de um grupo da FDV que ganha bolsas para fazerem trabalhos extras, dar opiniões a diretores e ajudarem na parte de sustentabilidade da universidade.

“Não vejo problema em trabalhar mais, desde que eu ganhe por isso. Trabalho não é só bater ponto, tem que ser algo que eu me identifique e me empenhe, porque influencia na vida inteira. Cumprir 8 horas diárias e esquecer o que fez o dia inteiro não é meu perfil”, conta Georgia.

Para Fernanda, flexibilidade é a principal qualidade que um emprego pode ter. “O que procuro num emprego? Primeiro, flexibilidade, depois remuneração boa, e também ter uma boa localização para não perder muitas horas no trânsito. E ainda que as pessoas tenham um bom comportamento, um chefe que me deixe confortável”, acrescenta.

Entre as gerações, os integrantes da Z mostraram maior motivação pelo dinheiro, embora 74% deles digam que o trabalho deveria ter uma finalidade maior que a de receber um salário, contra 45% da geração Y, 40% da geração X (nascidos entre 1960 e 1980) e 33% dos nascidos pós-Segunda Guerra, os Baby Boomers.

Essa é uma característica marcante da geração Z, segundo a gerente na Randstad Professionals, Martina Zago. “É uma geração de profissionais a que o mercado vai ter que se adaptar. Eles têm que gostar do trabalho, ou não vai fluir. São imediatistas, com ideias muitas vezes inovadoras, e buscam emprego onde querem estar. Estão dispostos a trabalhar cada vez mais, mas querem ter um horário diferente, para conciliar o tempo deles com projetos pessoais”, comenta.

Segundo o coordenador do Master em Liderança e Gestão de pessoas da FGV, João Baptista Brandão, enquanto as gerações que hoje são mais velhas foram educadas para a obediência, esse jovem tem uma atitude mental de questionar. “E ele tem argumentos bons. Eles também obedecem, mas precisam encontrar sentido nisso. É um jovem cercado de informação e sabe que há opções”.

Ele vai trabalhar bastante, mas precisa de uma contrapartida, que pode ser um bônus alto, uma progressão na carreira, morar fora do país, diz Brandão. “Por isso, as empresas precisam desenvolver contrapartidas interessantes para eles não desanimarem e irem embora”, acrescenta.

A professora do mestrado em Administração e de Gestão de Carreiras do Ibmec, Lucia Oliveira, lembra, no entanto, que no Brasil, ainda não há pesquisa sobre a geração e que em geral essas projeções são sobre o jovem de classe média urbana.

“A gente não sabe até que ponto essas são características de uma geração ou de ser jovem. Uma coisa é trocar de emprego porque não está legal sendo jovem, mas aos 35 anos talvez eles não serão assim. Nem tudo é geração. Parte é juventude”, avalia.

Mercado vai dar adeus à jornada fixa

Se o caminho por onde o mercado de trabalho tende ir é o da flexibilização dos horários e até do local de trabalho, com a chegada da geração Z esse processo deve se intensificar.

O futuro aponta mais para o modelo de prazo por projetos do que para 8 horas diárias na cadeira do trabalho. É o que explica o professor João Baptista Brandão, coordenador do Master em Liderança e Gestão de pessoas da FGV.

“As empresas estão caminhando, isso já existe em projetos de inovação, para dar liberdade, autonomia. Não precisar trabalhar 8 horas seguidas. Mas o funcionário tem que fazer uma entrega e essa entrega é em uma semana. Pode trabalhar de dia, de noite. Mas ele tem que entregar o projeto. E os jovens gostam de atuar em projetos, dando liberdade para trabalhar mas com prazo de entrega. A tendência é que as empresas trabalhem assim”.

Para Brandão, esse é o modelo do futuro: contratar alguém à distância para fazer um projeto com custo e prazo. “Ele pode escolher quando trabalhar mas fica responsável pela consequência do que faz. Essa é uma forte tendência”, indica.

“Até porque o trabalho está no celular, no computador, em qualquer lugar, a qualquer hora”, complementa a professora do mestrado em Administração e de Gestão de Carreiras do Ibmec, Lucia Oliveira.

“A gente tem aí uma questão jurídica trabalhista, mas já faz parte da realidade das pessoas. E com a entrada de mais jovens no mercado isso tende a se fortalecer, porque o smartphone permite trabalhar de qualquer lugar a qualquer hora. O WhatsApp hoje já é usado para questões corporativas, isso é uma tendência que é difícil reverter. A gente sempre vê a mensagem, no fim de semana, à noite, a qualquer momento”, observa.

Para ela, a ida física ao trabalho também deve ser reduzida. “Especialmente nos grandes centros onde gasta-se muito tempo de deslocamento, mas depende muito do trabalho. Para um trabalho intelectual, é mais fácil ficar em casa. Para a fábrica, não”, ressalva.

Na área da Ciência da Computação, Juliana Busato, de 19 anos, conta que o trabalho que escolheu é de criação o tempo todo. Aluna do 1º período da Faesa, ela diz que busca flexibilidade e um trabalho estimulante.

“Se o trabalho for mais flexível, acredito que rende mais. Hoje os empregos têm muitas regras, você é limitado a ficar na cadeira fazendo o que tem que fazer, tem hora. Não tem como pensar e criar assim”, diz ela, que acrescenta que trabalharia mais horas e nos finais de semana em troca de uma remuneração melhor e de poder aproveitar seu tempo da maneira que quiser.

Não dar liberdade nem voz ao funcionário e ter hierarquias rígidas são, para Juliana, os principais defeitos das empresas atuais.

“Trabalhar por obrigação não me satisfaz e não vai render. Acho melhor fazer o que eu gosto. Eu me vejo desenvolvendo habilidades, mas não penso em ser chefe. No futuro, penso em empreender na área de tecnologia. Sei que tem que trabalhar bastante, mas não me importo com isso”, completa. (Com informações de Gazeta Online)